O brilhante Mateus Asato anunciou recentemente que deu uma pausa na carreira e desativou suas redes sociais. Sendo extremamente respeitoso com um dos maiores guitarristas da atualidade, a única diferença entre ele e qualquer um de nós é a exposição gigantesca que ele angariou com sua arte e seu trabalho árduo. Digo isso, pois o sentimento que ele teve é conhecido, comum e, me arrisco a dizer, inato à todo artista. Graças a Deus, nunca parei para contabilizar quantas vezes perdi minha inspiração. Tenho certeza que se contasse em um caderno o tempo que fiquei longe da minha guitarra por não me sentir motivado, ou por stress, ou simplesmente porque precisei pensar mais em como pagar uma conta atrasada, com certeza eu ficaria bem espantado. Ainda bem que o amor sempre volta. Guarde isso bem, SEMPRE volta. Mateus ficou de saco cheio. Apesar de ter construído uma carreira exemplar baseado no formato moderno das redes sociais, sentiu que aqueles poucos segundos do Instagram, a rotina de ser obrigado a alimentar a máquina com o fast food musical que ela exige, não lhe apetecia mais. Mateus, através de experiência própria, só escancarou o cerne do artista: a impossibilidade de industrializar sua arte.
É tão triste saber que o fato de um artista não estar nas redes sociais significa sua completa inexistência ao grande público. Sua arte não é relevante. Não há outra maneira de atingir o ouvinte. Isso porque vivemos cada vez mais tempo chafurdando na tela do smartphone, encaixando o significado de realidade ao novo mundo virtual. Olha só! E é por meio desse mesmo Xiaomi aí que você está me lendo, haha. Mas é essa mesma ferramenta que arremessa o músico pra longe da sua alma. Criar demora. Compor exige demais. Atingir o ponto de maior expressão da sua alma é um caminho longo e cansativo. Leva horas, meses, anos, vidas! Tudo isso me parece antagônico a efemeridade das redes sociais, o lugar onde você trabalha horas para atingir a melhor qualidade audiovisual, e em uma passada de tela você já era. O ponto de ruptura vem e vem para todos nós! O momento onde a gente simplesmente não aguenta mais contradizer o tempo de maturação da arte chega, e vem com os dois pés no peito. Muitas vezes, acompanhado de uma tristeza profunda, mas sempre permeado de reflexão. Sobrevive aquele que respeita o seu próprio ímpeto artístico e dá tempo ao tempo, ao seu beat, ao seu metrônomo, à sua melodia, à sua harmonia, compondo sua própria canção em seu próprio tempo.
Enquanto escrevo essas palavras, seguro minha vontade louca de gravar um vídeo e receber um monte de likes. Mas no final do dia, quero mesmo é gastar o tempo que for para compor o que é fiel a minha alma. Estou rompendo aos poucos a bolha da mídia social e retomando o significado de ser artista. Torça por mim! É um processo extremamente difícil. Um dia (espero), Mateus Asato vai olhar de novo para sua guitarra e vai fazer um som que satisfaz sua alma. Talvez, não vá caber no Stories, nem no Feed, nem no IGTV, quem sabe nem no YouTube. Com certeza, vai caber no coração dele e será memorável. Para encerrar, um trecho de uma música do Steven Wilson que vem a calhar. "I'm tired of Facebook
Tired of my failing health
I'm tired of everyone
And that includes myself"
+MHX
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